sábado, janeiro 17, 2009

Esperanto possui praticantes no RN

Joana Lima/DN

Luana de Lima, 19, teve o primeiro contato com o esperanto na internet e se dedica ao seu estudo há três anos Religar os povos incomunicáveis desde a alegórica torre de Babel, na antiga Babilônia, pode parecer uma missão ambiciosa. Mas não há limites para os praticantes de um idioma elaborado para resolver o problema de comunicação entre os diferentes povos da Terra. Uma língua que é também fenômeno social, com um significado ideológico defendido por seus aprendizes. Assim é o esperanto, presente em pelo menos 120 países do mundo e falado por cerca de dois milhões de pessoas, segundo estimativa da Unesco.
A idéia de projetar o esperanto foi do médico polonês Lejzer Ludwik Zamenhof, em 1878. Na época do domínio oriental do Império Russo, Zamenhof queria uma língua neutra para facilitar o diálogo entre os diversos povos incitados às desavenças. O esperanto deveria se tornar a segunda língua das diferentes nações. Desde então o idioma veio se difundindo no mundo, tanto como instrumento lingüístico quanto como fenômeno social. Foram criadas associações locais, nacionais e internacionais.
O aprendizado e a prática do esperanto estão associados a uma ideologia da neutralidade. A língua universal não seria conseqüência do domínio econômico e cultural de uma nação sobre outras, já que o esperanto não pertence a povo nenhum. O caráter universal deve vir da neutralidade. ‘‘Por ser um instrumento neutro, coloca todas as pessoas no mesmo nível de igualdade. O esperanto é neutro, democrático e igualitário’’, ressalta o presidente da Associação Potiguar de Esperanto, Ivaldo Alves.
Como a proposta do médico polonês era criar uma língua universal, os estudiosos do esperanto o consideram a língua mais fácil de se aprender, podendo ser assimilada em 10% do tempo necessário para se aprender outras línguas. ‘‘Por ser planejado, o iniciador selecionou o que há de melhor nas línguas modernas’’, explica Ivaldo Alves. Outra vantagem atribuída ao esperanto é a facilidade para os seus praticantes no aprendizado de outros idiomas, depois de adquirirem certo nível de conhecimento da língua didática.
Entretanto, com a fim da Primeira Guerra Mundial, o inglês e os Estados Unidos se firmaram como potência militar, econômica e cultural, prejudicando uma maior difusão do esperanto pelo mundo. ‘‘Hoje o esperanto não está dominando o mundo como o inglês está’’, reconhece Ivaldo Alves.
Na opinião do presidente da APE, a língua internacional não se firmou como esperado por seu idealizador por causa de interesses econômicos. ‘‘O esperanto nunca contou com 0,1% dos recursos que o inglês usou para se firmar. Comparar as duas línguas seria desproporcional’’, admite Ivaldo, que cita como exemplos investimentos nos setores da indústria cultural e turismo voltado para o aprendizado do idioma nos países que têm o inglês como língua nativa.
Mesmo assim, os esperantistas consideram o idioma vitorioso. ‘‘Existem cerca de seis mil línguas no mundo e o esperanto está entre as 15 mais utilizadas na Wikipedia e 20 mais usadas no Google’’, revela Ivaldo Alves. O site de buscas, aliás, criou um portal totalmente em esperanto. ‘‘O esperanto é vivo, atuante e está em crescimento’’, afirma o presidente.
Cascudo foi primeiro presidente da APE
A presença do esperanto no Rio Grande do Norte não é de hoje. Em 28 de setembro de 1940, quando a Associação Potiguar de Esperanto foi fundada, o folclorista Luís da Câmara Cascudo foi eleito presidente de honra da associação, que hoje tem cerca de 100 sócios.
O objetivo do grupo é divulgar a cultura norte-riograndense por meio do esperanto e promover a reunião de pessoas interessadas em aprender o idioma. Com uma sede na Avenida Deodoro da Fonseca, nº 877, casa 3, a APE realiza encontros sempre aos sábados para os estudantes praticarem a língua e tirarem dúvidas.
Um desses participantes é a jovem Luana Araújo de França, 19. Recém aprovada no vestibular da UFRN para o curso de Comunicação Social - habilitação em radialismo, Luana acredita que o esperanto será útil em sua futura carreira profissional. Por isso, há três anos, ela se dedica ao estudo da língua. ‘‘Também me incentivou o fato de que o esperanto proporciona contato com pessoas de outros países e a facilidade de aprender outros idiomas’’.
O primeiro contato com o esperanto foi por meio da internet. Foi então que ela descobriu a sede da APE em Natal, onde estudou o nível básico do curso. A estudante conta que não achou difícil aprender o idioma. Apenas teve alguma dificuldade com a pronúncia. Além de aluna aplicada, Luana se tornou voluntária da APE, ajudando na participação do projeto Cidadão Nota Dez, para arrecadação de verba destinada à construção da sede própria da Associação. A sede atual é alugada e o espaço não é suficiente para organização de salas de aula, por isso os interessados são encaminhados para fazer o curso na Federação Espírita Norte-Riograndense.
Unesco recomenda ensino do idioma
Em pelo menos duas ocasiões, a Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura) emitiu parecer recomendando o ensino do esperanto nas instituições de ensino médio ou superior. Em 1954 e 1985, na ocasião da Conferência Geral, foram aprovadas resoluções especiais que tratavam do ensino do esperanto. Alguns países têm experimentado o ensino da língua nas escolas, como a Hungria, que exige o conhecimento do idioma para acesso ao ensino superior.
No Brasil, tramita no Congresso Nacional, desde fevereiro de 2008, proposta de emenda constitucional de autoria do senador Cristóvam Buarque (PDT-DF) sobre ensino do idioma. A proposta prevê a inclusão facultativa do esperanto nas escolas de ensino médio do país.
Já nos Estados Unidos, a inclusão do esperanto como disciplina nas escolas é uma das 87 propostas em votação popular até 15 de janeiro. O presidente eleito Barak Obama, que toma posse no próximo dia 20, abriu votação em seu site (www.change.org) para as propostas de mudança escolhidas pelo povo. As 10 mais votadas serão analisadas pelo presidente.
Leia o que simpatizantes famosos declararam sobre esperanto
Leon Tolstói, escritor russo:‘‘Vi muitas vezes como os homens se relacionam rancorosamente graças somente à impossibilidade material de compreensão recíproca. O aprendizado do esperanto e sua divulgação são sem dúvida ações cristãs, as quais ajudam na criação do Reino de Deus, que é o objetivo principal e único da vida humana’’
Antoine Meillet, lingüista francês:‘‘A possibilidade de instituir uma língua fácil de aprender e o fato de que tal língua é utilizável estão demonstrados na prática. Toda a discussão é vã: o esperanto funcionou’’
Julio Verne, escritor:‘‘O esperanto é uma língua simples, flexível e harmoniosa, útil tanto para uma prosa elegante como para inspirados poemas. É capaz de expressar todos os pensamentos e os mais delicados sentimentos da alma. É a língua internacional ideal’’
Baden-Powell, fundador do Escotismo:‘‘Igualmente, se o escoteiro desejar usar uma língua secreta na sua patrulha, todos os seus membros devem iniciar o estudo do esperanto. Ela não é difícil e é ensinada em um pequeno livro, que custa um pence. Esta língua está sendo usada em todos os países, de forma que você poderá aproveitá-la no exterior’’
J. R. R. Tolkien, escritor, autor da trilogia ‘‘O Senhor dos Anéis’’:‘‘Meu conselho a todos que dispõem de tempo ou inclinação a se ocuparem com o movimento por uma língua internacional, seria: ‘Apóiem lealmente o esperanto’’’
Umberto Eco, escritor, autor de ‘‘O Nome da Rosa’’:‘‘Em minhas freqüentes viagens a muitos países, principalmente à França e à Alemanha, tenho ouvido constantemente queixas de que a língua inglesa, tendo-se hipertrofiado no nível de língua internacional, constitui-se num perigo de natureza imperialista para as línguas nacionais, as quais vão perdendo terreno diante dela. Então digo-lhes: a solução é simples. Comecem a ensinar o esperanto a seus filhos e o perigo desaparecerá’’

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